Embora

les-Olympiades

Sempre no mesmo lugar. Já usou carro, ônibus, avião… Não se trata de distância, partir é mais do que por os pés de fora. Queria mudar-se embora não fosse possível se livrar do mesmo lugar. Então foi até a sala e tirou um cartão postal esquecido na gaveta — uma promessa de envio frustrada. Na foto, uma estátua içada sobre um caminhão, além de uma torre no canto, terminando de compor a paisagem. Escreveu: Não estranhem não, é pra mim mesmo. Quando eu chegar, me entreguem. Deixou o cartão na caixa de correspondência e saiu de casa.

A noite contornava o dia, era mais ou menos a hora em que quase sempre dou uma volta pela casa. Como uma tentativa de justificar um motivo pra esse passeio sem propósito, fui verificar a caixa de correspondência. Tinha um cartão postal. Atrás, leio: Pode parecer estranho, mas o cartão é pra mim mesmo. Guarde-o pra quando eu voltar. Na frente, Engels flutuava inerte sobre a cabeça de um operário, enquanto a Fernsehturm discretamente justificava o cartão. Nenhum nome, nenhum endereço… Fui até a sala, peguei um pedaço de papel na gaveta e reescrevi a frase. Queria comparar as letras.