espera
espera o que faz? a espera o quê? o quê?
Quarto Fui metendo tudo na gaveta.A irregularidade dos objetos (uma fúria de vespas)conduzia os gestos dos meus dedos. Queria ter o silêncio do espaçoescondido no lugar das coisas. Mas não existe horizonte vago,e a gaveta, mesmo ampla, foi pouca. Então notei o vazio dos gestos.Pois não seria meu quarto somenteuma parcela (talvez um resto)de outra
Comigo Cumprimentei-me de longe.Cabisbaixo, distraído,Sequer movi minha fronte— Chega de desconhecidos. Talvez suspeite quem sou,Mas só eu o identifico.
Fora Os pés empurram o chão.Em frente, um objetotraça o limite da vontade. Um passo sem despedida —fátuo — desconhece olugar do piso que lhe cabe. A distância é irrelevante.Nem longe nem perto,o alcance é uma incapacidade.
Sem título IV Você tenta gritar, mas acaba engolindo água. Ao mesmo tempo sua mão se destaca em meio à agitação do seu corpo — parece apontar para alguma coisa pendurada na ponte. Gasto toda minha força para empurrá-la. Você a agarra com obstinação, com a mesma certeza que tive de que aquilo era a
Prestes Olho para trás, tudo está completo.Não há falta, não há nenhum lamento,pois por lá passei e não perdi nada. Mas como se disso eu trouxesse nada,o que foi não basta, jazo incompleto— no tempo, ser é aniquilamento. Essencial é não ter o calamentodo que talvez seja, mesmo que em nadapersista: vão prestes a ser
Tem mas acabou Parece que tem um copo em cima da geladeira. Minha vontade de pegá-lo existe tanto quanto a geladeira. Vou atrás da minha vontade — ao mesmo tempo em que ela me coloca atrás do copo. Não encontro nenhum copo. Não vejo o copo da mesma forma que não vejo o copo em
Sombra do tempo Canto onde não há coisa construída.Resta apenas um lugar para o espaço,alheio a todas as horas corridas,que esquecidas se juntam em chumaços eternos, sem cor, sem nenhum centímetro,onde conotam um compartimentocujo vazio delimita o termômetrodo efêmero — ser no plano do tempo. Numa ala sombria, passos entulhadosignoram o rápido ou o devagar,desprezíveis
Inconvidado Me perguntam, porque não gosto.Nada mais simples, deu errado,e pra piorar, me foi imposto.Me perguntam, porque não gosto.Insistem, a despeito do óbvio.E mesmo assim, no mesmo fado, me perguntam por que não gosto.Nada mais simples, deu errado!
Embora Sempre no mesmo lugar. Já usou carro, ônibus, avião… Não se trata de distância, partir é mais do que por os pés de fora. Queria mudar-se embora não fosse possível se livrar do mesmo lugar. Então foi até a sala e tirou um cartão postal esquecido na gaveta — uma promessa de envio frustrada.